Quatro de setembro de 1920, um dia de alegria e um dia de tragédia na família Schovoieski, a matrona da grande família falecera durante o parto de seu sétimo bebê. O Pai não sabia que ria, ou chorava. Tomou nos braços a criança, era como um gatinho, quietinha, como se sentisse a morte da mãe pelo esforço de lhe dar a luz. Naquele instante o Pai prometeu a si mesmo e a pequena Amélia que a protegeria do mundo, da guerra. A pequena tinha 4 irmãos, e duas irmãs, mas destes apenas um rapaz estava vivo, naquela época a medicina era falha, doenças que hoje podem parecer simples disimavam famílias inteiras, e a grande casa dos Schovoieski era habitada agora apenas pelo Pai e por Amélie, já que o Rapaz se casara já a algum tempo.
Os anos se passaram, através de dificuldades, mas sempre cheios de amor. Amélia crescia, tocava piano todas as tardes para o Pai, ele mesmo a ensinara a ler, ensinara latim, francês, piano, cozinhar, cuidar dele, porque estava ficando velho. Todos os cabelos de sua cabeça haviam caído, suas mãos antes fortes agora eram enrugadas e poderiam quebrar-se sem muito esforço. A primeira Grande Guerra passou, a casa grande se foi, mas o Pai e Amélia continuavam unidos, moravam agora num pequeno apartamento no centro da cidade, não tinha muito luxo, mas eles não se importavam. Ela era uma moça linda agora, mas também não se importava, era feliz, pouco saia, enquanto seu pai trabalhava na alfaiataria ela cuidava da casa, ela estudava poesia, e sonhava. Era para ser uma história de vida pacata. Era para Amélia ter se casado antes que seu pai morresse. Teria filhos, uma casa, um bom marido, engordaria, e envelheceria feliz. Mas há dias em nossas vidas que podem mudar tudo. E esse dia chegou na vida de Amélie.
O telefone chamava incansável enquanto ela saia correndo do banho para atender, o roupão branco encharcara com as gotas de seu cabelo, depois, com as gotas de suas lágrimas. O Pai morrera, uma parada cardíaca fulminante do trabalho. Tinha acabado de chegar no trabalho, e se tivesse ficado em casa? E se Amélia trabalhasse e não deixasse que ele saísse? E se... E se... durante um longo tempo sua vida seria cheia de E se's. Tinha apenas 18 anos quando ficou sozinha.
Vestiu roupas negras, colocou o chapéu sobre a cabeça e o veu negro sobre o rosto. Ainda que pareça estranho ela estava linda. A melancolia parecia combinar com seus traços. Seu coração congelara. Estava só, fria, sem saber o que fazer. O Irmão chamara ela para ir morar com ele, mas não queria atrapalhar, a mulher dele acabara de ter o primeiro bebê. Os tempos não estavam facéis, só iria atrapalhar. Ele se ofereceu para leva-la em seu carro para casa, mas do mesmo jeito, ela recusou, precisava pensar. Era outono, um dia cinza, um dia morto. Caminhou para fora do cemitério de olhos baixos, as lágrimas escorriam sem parar por seu rosto, deixando um leve rastro negro de maquiagem borrada. Não se sabe por quanto tempo ela caminhou por entre as ruas vazias da cidade, nada vira até aquele instante, quando em um centésimo de segundo alguém a jogara no chão para o lado. Só o que pode ver foram aqueles grandes olhos azuis tão perto dos seus que poderia confundi-los...
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