A senhora no café - PARTE IV

Era como mergulhar num oceano congelado, mil lâminas perfuravam seus ossos congelando-a, sentia como se uma parte de seu corpo tivesse sido arrancada, mas não como dor, como frio, cada centímetro de seu corpo congelara mergulhado na escuridão da profundidade. Nadava, mas não conseguia sair daquelas águas. Até que um raio de Sol perfurou a escuridão, um raio de realidade, lucidez talvez. Ouvia duas vozes masculinas distantes, seria seu pai? O que estava acontecendo? Queria falar com alguma daquelas vozes, mas seu corpo não a obedecia, a mente estava levemente consciente. Precisava emergir daquele ébano antes que não pudesse mais voltar. Se agarrou a uma daquelas vozes, lutou contra as ondas de frio que a percorriam e foi invadida por uma claridade repentina que machucou seus olhos desfocados. O ar entrava em seu peito como fogo, cada particula de seu ser formigava como se tivesse passado séculos na mesma posição. Quando focalizou o olhar a lembrança voltou a sua mente como num flash em super velocidade.
O pai morto, o enterro, as ruas cinzentas...os olhos azuis. Nessa parte suas lembranças eram turvas, estava num instante caminhando e no outro no chão, com aqueles olhos tão proximos dos seus. Era ele, o soldado que estava ali, usava um uniforme azul-acinzentado, talvez pertencesse a força aérea, no peito vinha escrito "Deutscher Luftverband " e o seu nome "Henrrich Hartmann", era alemão! Tinha o emblema das forças nazistas no braço. Amélia tentou levantar-se, não tinha forças, porque estava num hospital com um maldito soldado alemão? Ele então percebeu que a garota acordara, se aproximou ao mesmo tempo em que ela se encolhia. Ele sentou-se a seu lado no leito e sorriu, e ali ela se perdeu. Não sabia mais porque era 'errado' ele estar ali. Nem sabia que devia se preocupar por estar no hospital. So sabia que estava agradecida por ele estar ali sorrindo para ela.
- Que bom que acordou senhorita Schovoieski, estamos à três dias a te esperar! - Era a voz mais encantadora que já ouvira, não sabia porque, mas todo seu corpo parecia estar acordando, Amélia apenas admirou Henrrich Hartmann, sem saber que era o inicio de sua história.
- O que...aconteceu?
- A senhorita estava distraída caminhando quando um automóvel quase a acertou, felizmente consegui lhe desviar, mas me faltou jeito, e sua cabeça bateu fortemente no chão, eu a trouxe para cá, descobri seu nome pelos documentos na bolsa.
Levou involuntariamente a mão até a cabeça, havia sangue endurecido na parte de traz, e pontos, vários, um arrepio percorreu a sua espinha, voltou seu olhar para o soldado, questionando-se em pensamento o que faria? Não tinha ninguém, talvez se ele a tivesse deixado morrer... Não! Amélia não era assim, não era amargurada. Tentou se prender a alegria por estar viva, mas não conseguia, a única coisa que a prendia eram aqueles olhos ali, de um soldado alemão nazista.
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