Era terça-feira à tarde, o café tinha alguns poucos perdidos, era periodo de aulas, os adolescentes que frequentavam a lan house que funcionava ali estavam em seus respectivos colégios. Havia uma velha senhora ali sentada, numa mesa um tanto quanto obscurecida, nada que desse medo, pelo contrário, alguns raios alaranjados de Sol iluminavam sua pele pálida, que um dia já fora uma porcelana, hoje carregava as marcas dos anos. Ela se vestia como uma avó deveria se vestir, usava brincos de pérolas, e um anel de diamante que não combinava muito com sua postura frágil, era um anel imponente, talvez de noivado, tinha um brilho e tanto. Ela folheava um livro amarelado, de capa de couro costurado, com aparência bem mais velha do que a própria mulher. Sorria em alguns instantes, tinha dentes fortes e retos, um dia aquele sorriso roubara corações, assim como aqueles grandes olhos verde-amarelados. Olhos que estavam distantes, olhando o nada, enquanto parecia lembrar de algo, eu daria qualquer coisa para ler tais lembranças em sua mente. Alguns meses como atendente num cyber-café e eu ainda não perdera o hábito de me encantar com as pessoas. A senhora voltou seu olhar diretamente para o meu, assustada eu disfarcei o meu interesse prolongado, mechendo em algumas xícaras ali, mas ela já havia me percebido. Levantou a mão e me chamou. Caminhei enquanto arrumava meu avental branco com manchas de café, ela sustentava um sorriso terno, naquele instante senti um carinho imenso, como se a conhecesse a muitos anos, sorri timidamente. Ela pediu um mocacinno, descafeínado, com creme. Acho que nunca esquecerei os detalhes daquele dia. Preparei o pedido dela o mais rápido possível, uma ansiedade tomava conta de mim, por algum motivo qualquer eu estava sendo impelida à ela. Voltei a mesa e entreguei o café, minha curiosidade me venceu e olhei por alguns segundos para o livro aberto sobre a mesa, parecia um diário, ou talvez uma agenda muito antiga, escrito à mão com tinta preta, uma letra bonita e corrida, havia uma foto colada a página, sépia, nela havia uma moça e um rapaz, os dois estavam sorrindo, abraçados, e eram lindos, havia também um trem atras deles, talvez estivessem indo viajar, talvez fosse a Lua-de-mel, talvez...
Desviei o olhar constrangida, mais uma vez a senhora havia reparado em toda a minha curiosidade, apenas sorri com a face avermelhada, virei-me e voltei ao meu posto. Não conseguia parar de observá-la. Ela tirou uma folha de dentro de sua bolsa, e uma bela caneta dourada e começou a escrever. Ficou quase uma hora ali nesse trabalho. Três folhas escritas e ela me chamou novamente. Caminhei até ela e perguntei novamente o que ela desejava. Sua voz falha não escondia a beleza que um dia ostentara. "Querida, qual seu nome?" meu coração acelerara enquanto respondi."Eu quero lhe dar um presente" ela disse, entendendo à mim o suposto diário e dentro dele as folhas que passara aquele tempo escrevendo "Não precisa ler se não quiser, apenas tenha-o" ela sorriu enquanto sua mão tocava a minha e então seus olhos perderam o brilho, enquanto fechava-os devagar, o sorriso ainda nos labios, e ela morreu.
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