A senhora no café - Parte VII

Ainda que tivesse certeza que toda a felicidade que explodia diariamente dentro de si logo seria arrancada, Amélia mergulhou sem medo no amor que sentia por Henrrich. No dia em que ele a pedira em casamento decidiram alugar uma casa no campo, para passarem cada instante que lhes restava juntos. Não existiriam palavras para descrever como em tão pouco tempo uma mulher poderia ser da mais feliz a mais derrotada do mundo, mas era o que acontecia com Amélia. Eles eram noivos, e passavam cada dia planejando o nome que dariam a seus filhos, as cores que dariam as paredes de sua casa, a posição do sofá e da lareira, os padrinhos, as flores na decoração do casamento, e ela passava as noites aninhada no peito dele, sonhando que fosse eterno, imaginando como seria se ele fosse um homem qualquer, e não um oficial da Luftwaffe. E em seus sonhos, todos os seus planos se realizariam.
Mas o tempo jamais fora piedoso, e a realidade não se transformava porque jovens estavam apaixonados. Nem o destino da Alemanha seria outro. E os dias que restavam antes dele partir se esvaiam como água entre os dedos.
"Os dias nasciam quando eu via seus olhos azuis ao meu lado,a me observarem. Os raios de Sol que ultrapassavam as arvores em torno à casa em que estavamos vivendo iluminavam seu rosto de anjo, suas mãos em contato com minha pele eram como o toque de uma rosa, ninguem que jamais tenha amado será capaz de entender o arrepio que percorria minha espinha a cada instante que sentia ele junto à meu corpo, mais que isso, sua alma unida a minha, e nossos lábios não queriam se afastar sequer um instante, como se pressentissem nosso destino separados, e nossa pele em contato era como a chave e a fechadura feitas uma para outra, pois nenhum corpo seria como o dele, nenhuma carícia me faria sentir como que deitada em nuvens do paraíso infindo do amor. Nos amamos todos os dias, e todas as noites que nos restavam juntos. E riamos e conversavamos sobre muitas coisas, mas jamais sobre o futuro próximo. Seu cheiro grudou em minha pele de tal forma, que jamais poderia esquecê-lo, misturado ao cheiro do café forte que ele preparava pelas manhãs e levava a mim, misturado ao cheiro de orquídeas silvestres que adentravam à janela, e ao cheiro de terra umedecida pelo orvalho matutino. Como se pode esquecer a perfeição? Como se poderia comparar alguém, que sempre seria o primeiro?"
Você já se sentiu como se todo o seu chão fosse arrancado de baixo de seus pés?A pólvora tomou o lugar da terra que deveria existir sobre seu mundo, no instante em que o automóvel de Henrrich deu a partida, o pavil que explodiria seu universo acabou, e tudo que restaram foram lágrimas, que não findavam. Era só o vazio a sua volta, pois tudo que via fazia parte dele, todas as suas lembranças pareciam de alguma forma levar até ele, desejou por dias, ardentemente ter morrido e jamais tê-lo conhecido. Desejou que o maldito carro realmente a tivesse atropelado, pois a tristeza que rasgava sua alma a todo instante a sufocava e a matava devagar. Nenhuma carta chegara, mesmo que o Sol iluminasse o céu, seus dias pareciam cinzentos, exatamente da mesma forma como no primeiro dia em que o vira.
Decidiu depois de um mês que Henrrich partira que voltaria para a cidade, voltaria para o curso de enfermagem, e esperaria que ele voltasse para seus braços, mesmo que tal espera durasse toda sua vida.
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