A senhora no Café

"Volte para a casa do campo, o mais breve possivel. Com Amor. Henrrich" Dois meses sem qualquer noticia e era tudo o que ele tinha a lhe dizer? Seu mundo havia desabado em sua cabeça no instante em que ele partira, seu coração parecia quebrar mais e mais a cada dia que se passava sem nenhuma noticia. Tudo havia se passado em sua imaginação; ele podia ter uma familia em Berlim, podia ser casado e ter filhos, podia ter sofrido um acidente, podia ter morrido em combate, como saberia? Ela não era nada oficialmente para ele. Não passava de uma bela história primaveril, efêmera. Lágrimas secaram de tanto escorrer, seu coração e sua alma congelavam junto ao inverno que se aproximava da Polônia. Continuara seu curso de enfermagem, todas as veteranas concordavam que ela tinha mãos de fada. Um forte pressentimento em seu coração dizia que iria precisar disso em breve. Faltava pouco mais de um mês para completar 19 anos, e já tinha as responsabilidades de uma mulher. Estava trabalhando no hospital municipal de Varsóvia, Henrrich deixara um dinheiro para ela, mas estava tentando se manter sozinha. Tentava se recompor do choque que era estar sem ele. Era como estar longe de si mesma. Agora estava ali, desorientada com mais lágrimas umedecendo seu rosto pálido numa manhã gélida de domingo. Suas mãos tremiam, pois o pressentimento em seu coração lhe dizia para ter medo. No mesmo dia juntou suas malas, arrumou-as, e partiu no carro de uma amiga do hospital para a casa do campo, era dia 28 de agosto de 1939, os últimos dias de paz dos proximos cinco anos. As memórias de Amélia desses dias que seguiram são confusas. Talvez o terror que seguiu ofuscou as memórias que deveriam estar claras ali. Foi em primeiro de setembro que o bilhete que Henrrich lhe mandara fez sentido, ao mesmo tempo em que todo o resto de sua história ao lado dele perdera o sentido. A Luftwaffe, com o tenente Henrrich Hartman à seu comando invadira a Polônia de surpresa, bombardeando mais da metade da cidade de Varsóvia por ar, e atacando por terra, sitiando a cidade em questão de horas num ataque sem chances de defesa. Quem não era vivo em tal época, como eu, jamais saberá com exatidão o que era ver a força negra da grande guerra mais uma vez tomando a Europa. Cívis mutilados na rua, e o ataque fulminante não parava, rechaçados corpos se amontoavam pela capital polonesa, o exército polonês tentava reagir, mas não era nada se comparado ao poder da Luftwaffe, a organização, e as táticas elaboradas durante anos pelo Terceiro Reich. Seria impossível uma reação tão rápida dos Aliados a ponto de conter Hitler. Durante dois dias, dois torturantes dias, Amélia permaneceu ouvindo tudo isso pelo rádio, ouvia que alguns aviões alemães eram abatidos, e chorava, e sentia seu peito apertado, ao mesmo temppo que sentia raiva, ele estava ali espionando o poder de guerra polonês, todos os dias em que ele não voltava, era isso que estava fazendo, ajudando a Alemanha a destruir a sua nção. Mas ela jamais fora uma covarde, por mais que soubesse de todo o risco, ela voltaria para Varsóvia, e se alistaria como enfermeira voluntária no exército polonês. Ou era o que deveria fazer, tentava fazer. Até reencontrar os olhos de seu amado. A casa do campo era a alguns quilometros de Varsóvia, e ficava em meio a uma grande campina deserta. Foi ali que o Messerschmitt Bf 109 Emil da força aérea pousou em 3 de Setembro, no entardecer, e ele saiu do avião. Parecia vários quilos mais magro, abatido, com um grande sorriso ao reencontrar Amelia a salvo, porém a preocupação tomava conta do oceano congelado que eram seus olhos.


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