A senhora no Café - Parte VI

Era tão necessário fugir dele, que o imã que os unia parecia cada vez ter mais força. Forças contrárias se atraem, é uma lei da física, e aqui, uma lei do amor. Seria lindo, se não fosse tão estritamente trágico. Inevitavelmente a carta que ela esperava jamais chegar estava nas mãos de Henrrich, com o emblema simbolo do partido nazista. Ele ainda não abrira, mas as lágrimas já corriam pela face de Amélia. Ela estava agora entre seus braços mas era como se já o sentisse partindo. Aquele oceano congelado que era os olhos dele estavam agora a poucos centimetros dos seus, mas o que ela realmente sentia eram seus lábios tão proximos que sentia seu respirar. A mão dele segurava com firmeza seu rosto trêmulo, úmido por suas lágrimas, quando numa onda repentina de paixão acompanhada de uma furia que ela jamais vira ele a tomou num beijo.
Nenhum beijo que ela sentira antes podia ser comparado com este, era tão carregado de sentimento que a deixara paralisada por alguns instantes, todo seu corpo amolecera mas ele a segurava pela cintura com tal firmeza que mesmo que ela estivesse morta ele não a deixaria cair. Até que todo o sentimento que ela estivera reprimindo por todos esses meses ao lado dele se manifestou. Ela o segurou com tal urgência como se assim pudesse impedi-lo de partir. Seus lábios se encaixavam e suas bocas se exploravam como se jamais fossem se soltar, era único.
Depois de instantes que pareceram séculos seus lábios se afastaram aos poucos, mas seus olhos estavam unidos, suas almas estavam unidas como apenas alguém que já sentiu o mais verdadeiro amor, unido ao desespero da despedida poderia imaginar.
- Amélia, case-se comigo. Eu te amo, eu te amo desde o instante em que eu vi seus olhos pela primeira vez, te amo como nenhum home jamais te amaria. Não importa o que aconteça, case-se comigo.
As lágrimas corriam sem parar pela face dela, enquanto ela o abraçava com o sorriso mais confuso que já dera. Inicialmente o 'Sim' fora apenas um murmurio, até se tornar um grito cheio de desespero. Eles se amaram naquela noite. E a carta permaneceu fechada até a manhã. A preocupaçao, o desespero que antes tomara conta de Amélia haviam estado de lado naquelas horas em que novamente ela se sentira totalmente segura nos braços dele. Enquanto seus corpos e lábios eram um só. Mas o tempo não iria parar mesmo com a força desse amor. Nem a guerra seria adiada. Nem ele deixaria de ser alemao, ou ela deixaria de ser polonesa.

"Tenente Henrrich Hartman, seu objetivo na Polônia se torna inviável tendo em vista os novos interesses do Terceiro Reich. Em nome do Führer Adolf Hitler lhe convocamos para voltar à sua Pátria. Dentro de quatro semanas deverá se apresentar no 13º comando da Luftwaffe.
Sem mais."

Eram palavras breves, segundo Henrrich era uma questão de segurança das forças armadas alemãs manter poucas informações na correspondência, mas mesmo assim, aquelas poucas palavras foram capazes de acabar com toda a felicidade que reinara a poucas horas naquela casa. O coração de Amélia parecia ter sido arrancado por elas. Veio à tona em sua cabeça tudo que evitara conversar todo aquele tempo, o objetivo do Tenente Henrrich Hartman na Polônia, um ressentimento abateu sua alma, assim como o silêncio se abateu entre os dois por um tempo que para ela pareceram dias. Ela amava seu país, mas amava ainda mais aquele homem. Mas não sabia se ele também poderia amá-la mais do que ao Reich.
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